segunda-feira, 26 de julho de 2010

1% da Riqueza do Recôncavo Baiano

Quando se tem sede, deve-se buscar o que beber, e não há nada mais revigorante que beber diretamente na fonte. Foi com esse pensamento que um dos alunos de contra-mestre Cenorinha viajou até a Bahia para sentir o axé do povo, dos lugares e dos mestres e mestras da cultura popular afro-brasileira.

Com certeza, o recôncavo baiano é um dos berços da cultura do Brasil, região simples de pessoas simples mas de uma riqueza que não se pode computar. O nome recôncavo baiano se dá pela geografia da região, pelo formato recôncavo do continente que margeia a Baía de Todos os Santos. Atualmente 32 cidades formam o recôncavo baiano. Na época do Brasil colônia, a região era forte em plantações de cana e tabaco.

Foi no recôncavo que nasceu o samba - por volta de 1860 segundo os historiadores, influenciado pelo ritmo africano "semba". Assim como a Capoeira, o samba nasceu dos escravos africanos em terras brasileiras, portanto, configura-se numa manifestação cultural afro-brasileira. O samba de roda é uma junção de música, dança, poesia e festa, e existem pelo menos dois tipos, o samba corrido e o samba chula. No samba corrido todos sambam enquanto dois solistas e o coral se alternam no canto. Já no samba chula, somente uma pessoa corrê a roda sambando após o canto da chula, ao som dos instrumentos e das palmas.


O samba de roda está intimamente ligado ao culto aos orixás e cabloclos, assim com também com a Capoeira. Não há como separar estas três artes/culturas, pois são uma manifestção só, herança de matriz africana em terras brasileiras.

Numa breve viagem pelas cidades de Santo Amaro da Purificação, Acupe (distrito de Santo Amaro), Cachoeira, São Félix e Muritiba. Pode-se notar que o samba ainda hoje é muito forte. Na cidade de Santo Amaro da Purificação até existe uma casa criada para sambadores e sambadoras da região: a Casa do Samba, onde frequentemente são realizadas festas com grupos da região e também de outros Estados. Caminhando pela região não é raro se deparar com um mestre ou mestra da arte.
Na cidade de Cachoeira, também existe uma casa de samba, a Casa de Samba de Roda de Dona Dalva, onde semanalmente têm ensaio aberto do Grupo de Samba de Roda Suerdieck, que recentemente completou

50 anos de samba, segundo Dona Dalva, o nome Suerdieck é por causa que antigamente o samba era realizado na fábrica de charutos onde trabalhava e que levava este nome. Pela região do recôncavo ainda devam existir centenas de grupos de samba, - e é por isso que o título deste artigo é 1% da Riqueza do Recôncavo, - pois ainda há muito para se conhecer.

Terreiros de Candomblé e Umbanda existem aos milhares na região, somente na cidade de Cachoeira, disseram haver por volta de 257 terreiros, segundo dito pelos moradores da cidade.
A região também sempre foi berço de grandes Capoeiristas como: Cobrinha Verde, Traíra, Najé, Síri de Mangue, Neco Canário Pardo, Noca de Jacó, Gato, Atenildo, Santugri, entre outros. Besouro de Mangangá, lenda da capeoira que até pouco tempo não se sabia se ele tivesse realmente existido também é da região, da cidade de Santo Amaro da Purificação, onde aprendeu capoeira com Tio Alípio.
Trazendo aos dias "mais atuais", o recôncavo é terra de Mestre Ananias (natural de São Félix) e também de Mestre Bigodinho (natural de Acupe), entre outros.
A Capoeira continua viva na região, e isso pode ser comprovado na academia de Mestré Adó, aluno de Mestre Gato Preto, em Santo Amaro da Purificação, onde desenvolve um bonito trabalho social com a Capoeira. Além de Mestre Adó, devem existir na região dezenas de Mestres com ou sem trabalhos, que numa curta viagem não se pode conhecer.

A riqueza do recôncavo se estende a outras manifestações da cultura popular, em Acupe por exemplo existe o Nêgo Fugido, que é uma festa muito singular que envolve toda a comunidade, desde crianças a adultos. É uma espécie de teatro que caminha por todas as ruas da vila de Acupe encenando a história de um escravo que tentou fugir e foi recuperado pelo capitão do mato, o "teatro espontâneo" percorre a cidade sendo encenado inúmeras vezes, além do personagem do capitão do mato e do escravo/nêgo fugido, ainda são representadas as figuras do rei e da polícia. Além dos "atores", músicos também acompanham toda encenação. O Nêgo Fugido é uma linda maneira de se manter viva a memória do povo da região.
Paralelamente ao Nêgo Fugido, também acontece

uma outra manifestação popular, as Caretas, que também contam com a participação de crianças e adultos. As Caretas percorrem toda a cidade com galhos de árvores nas mãos e saem correndo atrás de quem estiver na rua para "bater". Atualmente em Acupe, existem duas Caretas, a tradicional de papel marchê ou palha, e a de borrcaha, esta última por sinal parece seduzir mais as crianças pois existem até caretas fantasiadas de personagens atuais como do Homem Aranha, entre outros. Segundo consta, as Caretas surgiram em meados do século XIX, quando num antigo engenho de Acupe, no dia 2 de julho de 1850, negros escravizados apareceram mascarados numa festa promovida pelo Senhor de Engenho, faze

ndo estripulias e brincadeiras com os presentes. Existe uma segunda versão para o surgimento das Caretas, que diz que tendo um escravo fugido graças as disfarce, a comunidade passou a imitá-lo nos anos seguintes.
Enfim, em poucos dias pode se ver o quanto rica é a região do recôncavo, e o porque o termo brasileirismo em alguns dicionários remetem-se a cultura da região.
Axé Bahia!

3 comentários:

  1. Legal ver que a capoeira e a fantasia têm esse potencial revolucionário na Bahia.

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  2. Ficou excelente o texto, parabéns!!!

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  3. Opa, Opa, Valeu Jan. é que é feito com bastante carinho! Aparece aqui um dia.

    Bjo.

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